O "branco" a acompanha de longe, não com sentido de pausa, de fundo silencioso, mas bem ao contrário, participante, um suporte ativo, interlocutor.
Simplificando a compreensão de sua obra atual, diríamos que para ela mais interessou aquilo que estava "atrás da casa" do que na própria casa para habitar. Deve ser este o caminho real da maioria dos artistas que trilham a poderosa vertente dos materiais de "Arte". A iniciação não foi pelo portal da evolução de um artesanato sedutor, mas sim pela criação de "situações visuais palpáveis", onde veículo e imagem se fundem, renovando funções e conteúdos ancestrais. A sensibilização através dos delicados percursos da luz torna-se um tema em si mesma, que pode ser percebido em contraponto com o contorno dos símbolos incorporados.
Leitura envolvente da sequência dos 16 Circulares e dos comoventes 6 brancos 40 x 40 usando a medição da gravidade para aferir presenças e ausências dialogando com o "peso" do tempo e na escavação de apoio dos objetos-moldes selecionados anteriormente.
Materialização de uma resposta puramente imaginária, que se deu antes e depois da primeira motivação da artista. Delicadamente somos levados pelas mãos do nosso olhar a percorrer as pulsações infinitas desta série que varia constantemente sem se movimentar. Um caminho promissor da previsível e ilimitada vertigem, com todos os riscos que a Arte de ponta solicita.
Estabelecido este patamar de liberdade aguda, pela sua experimentação inquieta, Eliana Anghinah libera a ambiguidade de "tramas informadas"pelas substâncias de origem (bananeira e algodão) e dança pictoricamente com as mesmas. A polpa é utilizada de maneira inovadora e as tessituras circulam em evidência, surpreendendo pelas soluções, pelos formatos inesperados, pelo acoplamento de cores naturais até numa certa transgressão das leis da natureza.
Isso nos leva à questão da gênesis de sua visualidade: o Brasil. Existe uma sintaxe subjacente em toda obra de arte brasileira, que é reflexo de nossa generosa oferta de tecnologia e da inestimável escala física e espiritual de nossos conflitos e rompimentos com a tradição. Desse corajoso destino ninguém escapa, Eliana o representa muito bem.
Ela não se contentou com a superfície do papel. Foi além, deu-lhe um novo corpo e uma nova alma."
Maria Bonomi, artista plástica
Doutora em Poéticas Visuais pela ECA-USP em 1999.
Fundadora e Conselheira da AIAP e do Sinapesp - São Paulo.
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"Eliana Anghinah's first concern was not, logically, with paper. Her education and research corresponded to a broad knowledge of a possible incorporation of plastic expressions already experienced, which had in time drained away from within and around her.
'Whiteness" had long accompanied her. Not as if it was a pause, with a silent background "supporting" the image, but on the contrary, participant, an active support, an interlocutor. A limited space which to work in. To simplify the understanding of her current work, we could say that what interested her most was that which was "behind the house" in which to live itself. This is probably the real trajectory of the majority of artists that trail the mighty versant of "Art materials". Her initiation was not through the portal of a seductive handicraft, but through the creation of "palpable visual situations" where vehicle and image fuse, renewing ancestral functions and contents. To sensitize using the delicate intricacies of light becomes a theme in itself, perceived in counterpoint to the contours of the symbols incorporated.
The sequence of the 16 "Circulares" and the poignant 6 "Whites" 40 x 40, which used the measurement of gravity to gauge presence and absence in
dialogue with the "weight" of time and in the supporting excavation of the previously selected objects/molds, proved to be very fascinating reading.
A materialization of a purely imaginary response which took place before and after the artist's first motivation. We are delicately taken by the hands of our gaze to follow the infinite pulsations of this series in constant variations without movement. A promising course of predictable and unlimited vertigo, with all the risks that superior arts solicits.
Once this degree of acute liberty is established, through its uneasy experimentation, Eliana Anghinah liberates the ambiguity of "informed textures" through the use of prime substances (banana trees and cotton) and pictorially dances with them. The pulp is used in an innovative manner and the contexture circles in evidence in its solutions, unexpected shapes and coupling of natural colors, wich goes as far as almost transgressing natural laws, taking you by surprise.
This leads us to the issue of the genesis of her visuality: Brazil. There is a subjacent syntax in every piece of Brazilian Art which is a reflection of the generosity supplied by our ecosystem and the priceless physical and spiritual scale of our conflicts and ruptures with tradition. No one can escape from this courageous destiny, Eliana represents its very well.
She was never content with the surface of a piece of paper. She went beyond, and gave it new body and soul."
MARIA BONOMI, artist
Doctor in Visual Poetics by ECA-USP in 1999.Founder and Concilor in AIAP (International Artists Association- Unesco) and of the SINAPESP-São Paulo.